SALÃO PAROQUIAL
Estávamos em 1940.
Paroquiava Santo António o saudoso Vigário Dr. Albano
Maciel. No tempo o título de Vigário era atribuído
só a alguns sacerdotes, embora fosse termo jurídico equivalente
a pároco. Todos o chamavam Doutor Albano, por ser formado em
Direito pela Universidade Gregoriana de Roma, onde foi condiscípulo
de Eugénio Pacceli, mais tarde Papa Pio XII.
Expressava-se nestes termos: "precisamos de uma coisa qualquer,
não sei bem o quê, mas sirva para distrair a juventude,
tirar os homens das tabernas, proporcionar um são convívio
entre as pessoas e dar-lhes formação cristã".
Nesta data não se ouvia falar em salões paroquiais, mas
o senhor Dr. Albano já tinha esta intuição. Foi
com esta intenção que comprou o que havia sido a garajem
do único automóvel da freguesia do Sr. João Augusto
Oliveira, junto à Grota do Lugar, no Campo da Mourisca.
Faleceu o Sr. Dr. Albano em 19 de Dezembro de 1948, e este sonho nunca
desapareceu completamente do "sonho", mas por uma razão
ou por outra foi sendo adiado.
Ao tempo do Padre José da Costa, uma comissão de festas
empregou o dinheiro restante das festas, para comprar a casa da "tia
Cristiana" "à boca" da Lomba dos Melos.
Ao Padre José da Costa sucedeu o Padre Simas da Câmara
Carreiro.
Entretanto faleceu o senhor Padre José Botelho de Amaral, manente
nesta freguesia, a 12 de Fevereiro de 1976, que deixou a sua casa da
Lomba dos Melos à igreja .
Nesta altura já outras freguesias tinham salões paroquiais
tipo teatro, causando uma certa "inveja" a Santo António,
que continuava a não o ter, e o dinheiro da igreja era canalizado
para outras obras.
Em 1977 o Padre Simas começou os "Cortejos de Oferendas"
substituindo o Peditório das Estrelas, para angariação
de fundos para o salão, mas em quantidade que ele considerava
insuficiente para arrancar com a obra, e não arrancou. Foi transferido
para o Porto Formoso.
Entrou para Pároco de Santo António, um filho da freguesia
Padre David Botelho do Couto a 12 de Agosto de 1979.
Foi-lhe posto o problema do salão e ele disse que se o povo quizesse
o faria.
Poz mãos à obra acompanhado por uma equipa de corajosos,
que não desanimaram perante as dificuldades, que continuamente
se levantavam, até porque muitos paroquianos, quando chegou a
hora da verdade, se temeram da despesa e até queriam desistir
da ideia.
Foi vendida a casa da "tia Cristiana" e a do senhor Padre
José e foi comprado um terreno mais amplo, no fundo do Lugar,
ao lado do Ramal Novo e da Rua da Mãe de Deus de baixo e de cima,
que fôra do Dr. José Jacinto Pereira da Câmara.
Em 23 de Junho de 1985 foi lançada solenemente a primeira pedra,
que jaz no alicerce do Salão, com algumas moedas de 1985 e um
documento com a acta respectiva que diz o seguinte:
"Aos vinte três dias do mês de Junho do ano da Graça
de Nosso Senhor Jesus Cristo, mil novecentos e oitenta e cinco, sendo
Papa João Paulo II, Bispo de Angra e ilhas dos Açores,
D. Aurélio Granada Escudeiro, Pároco desta freguesia de
Santo António Padre David Botelho do Couto, Presidente da República
António dos Santos Ramalho Eanes, Primeiro Ministro Mário
Soares, Presidente do Governo Regional dos Açores João
Bosco da Mota Amaral, Presidente da Câmara de Ponta Delgada João
Gago da Câmara, Presidente da Assembleia de Freguesia António
de Aguiar Cabral, Presidente da Junta de Freguesia João Evangelista
do Couto Botelho, Presidente da Casa do Povo Artur Borges da Câmara,
procedeu-se à benção e lançamento da primeira
pedra do edifício do "Centro Paroquial de Santo António",
sob a Presidência do Presidente do Governo Regional dos Açores
senhor Doutor João Bosco da Mota Amaral. Benzeu a referida primeira
pedra o senhor Cónego Monsenhor Jacinto da Costa Almeida, Reitor
do Seminário do Santo Cristo em Ponta Delgada, em representação
de sua Excia. Revma. o senhor D. Aurélio Granada Escudeiro, Bispo
desta Diocese.
O projecto da obra foi da autoria do arquitecto Francisco Gomes de Meneses,
societário da Firma Luis Gomes Sucessor Limitada. Os arranjos
exteriores foram projectados pelo Engenheiro André Macedo e o
projecto da instalação eléctrica do técnico
electricista Humberto Moniz. A execução da obra por administração
directa, é feita pelo mestre de obras desta freguesia António
Ferreira Pina, tendo assistência técnica da Secretaria
Regional do Equipamento Social.
A presente acta depois de lida em voz alta vai ser assinada por todas
as autoridades presentes e por quantos o queiram fazer".
As obras começaram imediatamente. Despertaram generosidades.
Foram homens para matas cortar madeiras, que foram postas à nossa
disposição. A Junta de freguesia oferece a areia, e dá
outros apoios circunstanciais, a Câmara e a Secretaria do Equipamento
Social, cedem máquinas e camiões para desaterros. A azáfama
é grande. A obra começa a crescer, modificando o horizonte
paisagístico.
Em 1985 em Fall River o Pe. Daniel Oliveira Reis, filho desta freguesia,
promove um jantar à moda americana e consegue dos nossos emigrantes
e amigos a importância de 7.665 dollars, que ao câmbio de
então 165$00 dá a importância de 1.264.765$00.
Em 11 de Abril de 1986 foi a "festa da telha", como é
tradicional entre nós.
Os pedreiros costumam por a bandeira do Espírito Santo no forro
do tecto e no fim do dia há uma festa, com um bom jantar, em
que estão presentes os trabalhadores e convidados.
Em 17 de Dezembro de 1986 foi ligada a luz eléctrica. Repicaram
intensamente os sinos da igreja. Era um sonho que se fazia realidade.
Em Março de 1987 começou a funcionar, com o mínimo
indispensável e sem mobiliário condigno, pelo que não
se fez a festa de .inauguração.
Os tempos foram correndo. O Salão começou a ter vida e
já não fazia muito sentido, que se fizesse festa da inauguração,
quando já havia alguns meses de uso.
Em Outubro de 1987 o emigrante desta freguesia António Freitas
Câmara, que é conhecido e assume o alcunha de família,
pelo qual se assina António Tabico, convida o Pe. David para
uma festa, que promove em Toronto para angariação de fundos
para o Salão. O convite é aceite e uma grande confraternização
se dá entre tantos santantonienses que já não se
viam há tantos anos. A festa rende 15.000 dollars que ao câmbio
de então 111$00 dão 1.665.000$00.
Também tivemos a comparticipação em dinheiro da
Secretaria do Equipamento Social, que desde 1985 a 1989 nos deu a importância
de 4.237.000$00.
A Câmara Municipal de Ponta Delgada fez o asfalto da Rua de acesso
ao Salão.
No início o nome oficial era "Centro Paroquial" para
ser mais abrangente, mas à data destas notas (2001) o nome consagrado
é "Salão"
O Salão não é apenas uma grande sala de 240 metros
quadrados, fora o palco, debaixo do qual estão dois camarins
e sanitárias À entrada tem um hall que serve de bar, dois
grandes compartimentos, para garagem e arrumações no rés
do chão, sanitárias e por cima no 1º andar 7 salas
e um balcão, e ainda uma enorme falsa.
Em 1988 acrescentou-se-lhe uma ampla cozinha, com forno de cozer pão.
À volta um grande espaço livre, que é acrescentado
em1999 pela compra do terreno
contíguo, ficando mais espaço disponível para lazer
e aparcamento de carros.
Já está a ser elaborado um projecto do recinto mais adequado,
para o tornar mais agradável e funcional, e junto ao Ramal ao
nível do caminho, será implantado um bar a funcionar pelas
festas
A finalidade principal do Salão é a formação
religiosa, que é a base de todo o resto. A catequese lá
está optimamente instalada. Fazem-se Cursos de formação
cultural e religiosa, não apenas para a freguesia, mas até
para fora da freguesia.
De Janeiro de 1989 a Novembro de 1989, funcionou como igreja paroquial,
quando ela estava em conserto, tirando-se-lhe todo o barro das paredes
e fazendo nova electrificação e sonorização.
Desde há alguns anos um dos compartimentos serve de sala mortuária,
que baptizamos como "Sala do Encontro" porque os mortos se
encontram com Deus e os vivos se encontram entre si, estreitando os
laços de fazer comunidade, que hoje são mais fracos que
no passado. O bairrismo santantoniense está a esmorecer um pouco.
Pelas festas do padroeiro, no recinto funciona um parque de diversões,
em que os carroceis fazem as delícias de muita gente. Nessa altura
o salão funciona como Restaurante bem como em festas de casamentos,
baptizados, aniversários e nomeadamente nas festas do Espírito
Santo em que nele se fazem as ceias dos criadores e se arma o "teatro"
do Espírito Santo.
Também lá se fazem exposições, reuniões,
convívios, tudo aquilo que ajude o homem a crescer.
Nele já se levaram à cena espectáculos, serões
de escoteiros festas de Natal das crianças das escolas primárias,
peças de teatro de um Grupo de teatro local "Quadrante Norte"
sob a orientação do Professor João Vasco Cunha,
já falecido, neto de outro orientador de teatro popular da freguesia,
Vasco Cunha em que ele próprio escrevia as peças a serem
levadas à cena em quadras populares com rimas obrigatórias.
Este grupo já morreu por falta de apoio económico.
No ano lectivo de 2000/2001 nalgumas das suas salas e presentemente
em 2001/2002 está a servir de Escola Primária, enquanto
o respectivo edifício está em grandes reparações.
É indiscutível os serviços que tem prestado à
comunidade e ainda prestará, consoante a nossa generosidade e
iniciativa o permitir.